CRÍTICA: ALIEN: ROMULUS: Até que ponto a arte é responsável pelas nossas expectativas?
- João Paulo
- 16 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Os próximos dias e semanas vão ser muito difíceis pra mim. Vou me sentir como um peixe fora d’água, acompanhando os outros se divertirem e reconhecerem algo que eu não vi ali. Uma das piores coisas que podem acontecer com alguém que ama assistir filmes é perceber que não está sentindo “o suficiente”. Aquele momento em que, após quase uma hora de filme, você se pergunta se deveria estar sentindo mais ou menos do que realmente sente naquele instante. Isso não quer dizer, necessariamente, que o filme falhou, mas existe um ruído na comunicação. Um desconforto que impera e não cessa rapidamente. Me pergunto o que pertence ao filme e o que pertence a mim. Levando isso para um campo maior, o que é a crítica se não um relato pessoal? Alien: Romulus, dirigido por Fede Álvarez, vai ficar por muito tempo na minha cabeça, mas não pelos motivos que eu gostaria.
Particularmente, eu estava muito ansioso para assistir Alien: Romulus. Amo acompanhar a franquia e adoro todos os filmes, com exceção de Alien 3, do diretor David Fincher. São filmes, na sua maioria, sólidos, que misturam horror e ficção científica, e abordam temáticas que me interessam profundamente, como criação, destruição e a busca pela perfeição. Nesse contexto, sinto que a recente adição flutua, tenta entreter, mas não adiciona algo que a sustente de maneira individual. É um filme que bebe da fonte de quase todos os seus antecessores, com foco em Alien, Alien Resurrection e Prometheus, o que, ao invés de transformar essa bagagem em algo significativo e inédito, me recorda mais o momento atual que o cinema enfrenta. Esse constante retorno ao passado, à nostalgia, e ao conforto impede que qualquer sensação de adrenalina ou perigo cresça.
Posso dizer que não senti tensão durante o filme. Parece não haver espaço, tempo e atmosfera para isso. Não há sequer espaço para o gore, para o horror grotesco, que, apesar de ter algumas cenas mais gráficas, são rápidas em movimento e duração. Assim que algo fica sério e intenso demais, a câmera muda o foco. Algo completamente diferente do que vimos em Evil Dead (2013), do mesmo diretor. Um filme sujo, nojento, terrível e belíssimo. Don't Breathe (2016) não é tão gráfico, mas se destaca como um dos melhores suspenses dos últimos anos. Em Romulus, não há margem para sentir perigo quando tudo se torna previsível e fácil demais. Ainda que a história tenha ou não um final ruim, ainda que seja comum a “final girl”, não ter a incerteza, o medo de que tudo pode dar errado a qualquer momento, acaba com a experiência.
Quando vou ao cinema, apenas espero sentir algo ou não sentir, quando essa é a proposta. Mas ir e não sentir quando essa é a intenção, acaba com o meu dia. Não encontrei ambição, profundidade e propósito nos personagens apresentados. Vários diálogos replicam falas de filmes anteriores, porém sem impacto. Elementos familiares como lugares, personagens e até trilha sonora são utilizados mais uma vez, mas, novamente, sem algo marcante o suficiente.
Não sou qualquer pessoa analisando Alien: Romulus. Como disse, já assisti a todos e admiro até aqueles que a maioria das pessoas reprova. Por isso, ainda há uma incógnita gigante na minha cabeça. O problema está em mim? Está no filme? O que aconteceu? Eu amo os filmes anteriores do diretor Fede Alvarez, adoro a saga, amo o horror como um todo. Ainda assim, faltou. E trago aqui a reflexão e o lembrete de que cada crítica sobre um filme demanda humildade. Até onde podemos afirmar que algo é ou não é aquilo? Enxergamos, escutamos, pensamos e vivemos de maneira tão particular. Como pode a minha experiência influenciar a sua ou o contrário? Qual o sentido de desencorajar as pessoas a irem ao cinema assistir um filme como alguns críticos fizeram nos últimos dias? Nós que escrevemos sobre filmes usamos do nosso repertório para validar nosso argumento sobre determinada obra, mas até nós, todos nós, estamos suscetíveis a passar por esses momentos de conflito. Momentos onde tudo parece estar ali, mas onde realmente?
De qualquer forma, o filme é lindo visualmente. Um dos mais belos da franquia. O jogo de luzes é marcante, o jeito como explora os ambientes e os monstros estão mais reais do que nunca. No entanto, ainda que a forma seja bela, o conteúdo carece. É um filme que, genuinamente, carrega momentos que brilham, mas que são logo cortados por fan services, soluções fáceis, estrutura familiar, personagens esquecíveis e uma história desinteressante. É um compilado de todos os filmes; tenta juntar o melhor de cada um, mas não atinge o que almeja.
Alien: Romulus tem êxito quando não tenta ser o que os outros foram. Quando oferece elementos novos, criativos e emocionantes. São poucos esses momentos, infelizmente. Foi uma grande decepção para mim. Espero rever no futuro e encontrar qualidades que não captei na primeira vez.
Assistir Alien: Romulus foi uma experiência frustrante, não porque o filme falhou completamente, mas porque algo dentro de mim não se conectou com o que estava na tela. Talvez o erro seja do filme, talvez seja meu. Mas o verdadeiro desafio de uma obra de arte é romper essa barreira, alcançar o espectador independentemente de suas expectativas. Quando saí do cinema, a dúvida que ficou não foi apenas sobre o filme, mas sobre a própria essência da nossa relação com o cinema. Afinal, até que ponto a responsabilidade de nos impactar recai sobre o filme, e até que ponto sobre nós mesmos? É uma questão que continuarei a ponderar, mas que, por enquanto, deixa em mim a sensação amarga de que algo se perdeu – seja no filme, ou em mim.
Acho que nunca encontrarei um consenso ou uma resposta definitiva sobre a nossa relação com a arte. Apenas estejam sempre abertos. Dispostos a assistir, revisitar e sempre repensar o que é, o que já foi e o que será.
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