CRÍTICA: ALIEN: ROMULUS: Uma resposta ao último texto (continuação com spoilers)
- João Paulo
- 23 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

Antes de tudo, gostaria de dizer que tudo no meu texto anterior continua o mesmo. Naquele momento, eu ainda não entendia ou não queria entender o que havia de errado com Alien: Romulus. Hoje eu entendo. O que não contradiz nada do que foi discutido lá. Contudo, lendo e relendo, percebi como já estava tudo lá. Só faltava destrinchar e elaborar com mais detalhes. Conflitos como esse virão e irão conforme descobrimos mais filmes, e é assim que as coisas são. Hoje, eu digo que compreendo os pontos negativos que realmente sobressaíram, mas até isso é suscetível a mudanças. No futuro, quem sabe, posso encontrar mais coisas no filme. Posso até gostar. Em uma conversa rápida e lendo alguns textos, já comecei a repensar a maneira como enxergo Alien 3. Sejamos sempre humildes, abertos ao conhecimento e nunca satisfeitos. Dito tudo isso, vamos às minhas impressões de Alien: Romulus, dessa vez de maneira mais concreta.
Além do que eu esperava do filme, que acredito já ter falado muito sobre, gostaria de falar sobre o que realmente está ou não está lá. Conforme os dias foram passando e eu via relatos de pessoas que compartilhavam essas mesmas impressões comigo, fui percebendo que a confusão e a minha reação negativa tinham motivos. Hoje consigo elaborá-los e compartilhá-los de maneira compreensível.
Primeiro de tudo, o caráter expositivo e saudosista de Romulus. Um filme que mais parece o resultado da mistura de todos os outros da franquia em um único produto. Resultado este que também é menos explícito e mais acessível para públicos mais jovens. Consequentemente, mais contido, pouco original, repetitivo e conservador. Apesar de vestir a capa de uma experiência nova e assustadora, o filme opta pela nostalgia e impede que o horror realmente se faça presente. O verdadeiro horror, o que é realmente assustador, é a recriação digital do ator Ian Holm, já falecido. Uma exumação digital. Algo completamente desnecessário, feito apenas para explorar esse saudosismo dos fãs mais apaixonados. A urgência de trazer o passado de volta, trazer os mortos de volta à vida, é tamanha que me pergunto quando a criatividade e a originalidade vão emergir novamente.
Frases icônicas da franquia são usadas propositalmente para quebrar a quarta parede, satisfazer os fãs e arrancar alguns aplausos. Romulus coloca a franquia Alien como mais um produto Disney, muito parecido com o Universo Cinematográfico Marvel. Um exemplo verdadeiro onde os executivos têm o poder de decidir o que funciona ou não. Vale ressaltar que o monstro do terceiro ato, um dos melhores momentos do filme, mas que ainda não sustenta o todo, quase não estaria no filme com a justificativa de ser “demais”. Mas até esse momento, que para muitos surpreende e traz a sensação de novidade, para os fãs que acompanharam toda a franquia, é uma reprodução do final de Alien: Resurrection.

Os personagens são vazios, com exceção do Andy, interpretado pelo David Jonsson. São praticamente insignificantes, com objetivos, motivações e personalidades rasos e sem camadas. Não consegui criar uma conexão verdadeira com nenhum deles. Em um dos momentos do filme, Romulus até tinha a oportunidade de explorar mais a independência de Andy, mas optam por transformar essa que seria uma proposta interessante, que conversa com o conflito inicial, em uma espécie de possessão corporativa. Possessão que logo é resolvida e não permite que haja uma verdadeira mudança.
Já que Alien: Romulus é uma projeção de todos os filmes da franquia, não seria ruim ter se inspirado em Prometheus e Covenant na forma como ambos trazem à tona esse conflito inerente nos androides. Esse contínuo conflito entre criação e criador. Como disse no outro texto, talvez uma das temáticas que mais aprecio e valorizo em Alien. Espero que com o tempo as pessoas vejam os dois últimos filmes, anteriores a Romulus, com outros olhos. Ainda que fujam da identidade criada no primeiro filme de 1979, são igualmente ambiciosos.
No coração desse filme de terror genérico, há um bom filme esperando para emergir. Não se vê a intenção de criar algo inovador ou revolucionário, mas há um certo cuidado na execução. Apesar das influências corporativas, da nostalgia superficial e da falta de profundidade, Alien: Romulus poderia ter sido um novo e fantástico capítulo. No entanto, optam por um caminho mais seguro. Na minha última crítica, eu me perguntei: até que ponto a arte é responsável pelas nossas expectativas? E realmente, é um questionamento mais do que válido. Contudo, não podemos ser passivos, meros receptores. O papel fundamental da crítica é o de colocar a obra em cheque. Desafiá-la, impulsioná-la e cobrá-la quando necessário.

Comments