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CRÍTICA: CHALLENGERS - Esse filme NÃO é sobre tênis!

  • Foto do escritor: João Paulo
    João Paulo
  • 28 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura



Em uma quadra de tênis dividida por uma rede, dois jogadores emergem das sombras: Art e Patrick. Suados e imersos em um confronto épico, eles são observados de perto por Tasha, cujo olhar feroz antecipa a intensidade do duelo. Assim começa "Challengers", dirigido por Luca Guadagnino, uma experiência eletrizante e carregada de tensão sexual sobre relacionamentos, obsessão e manipulação. Mais que isso, também apresenta um formato inteligente e funcional que potencializa a história e a imersão do espectador.


Tasha, uma personagem extremamente controladora, revela sua visão sobre o tênis em um diálogo: “Tênis é um relacionamento. Por uns 15 segundos, estávamos jogando tênis e nos entendemos completamente. Como todos que assistiam. Era como se nos amássemos ou como se não existíssemos. Fomos a um lugar muito bonito juntas.” Com essa fala, Tasha revela o que ela entende como tênis. Não apenas um esporte, mas um modo de vida. Tasha guia a história como um jogo, uma verdadeira treinadora. Tem Art e Patrick na palma da sua mão. Os três fazem parte de um ciclo tóxico e vicioso que dura anos alimentando maus comportamentos revelando uma imaturidade emocional e uma enorme busca por validação. 





“Estamos falando sobre tênis?” Patrick pergunta e Tasha responde: “Estamos sempre falando sobre tênis.” Patrick procura reconhecimento dos outros e, nesse aspecto, não é muito diferente dos demais. No entanto, ele não se rebaixa como Art. Patrick olha para Tasha e vê uma igual, uma parceira, mas sempre volta para ela de uma forma ou de outra. Está parado no tempo. Já Art sempre esteve disposto a qualquer coisa pela Tasha: jogar sujo, trapacear, manipular e ser estratégico. Ele é um personagem que mergulha de cabeça nessa mentalidade competitiva independente das consequências.


Em vários momentos na sala de cinema, eu estava respirando com dificuldade, completamente sem fôlego, tenso e vidrado no que acontecia. "Mad Max: Fury Road" é um exemplo de filme que, além de contar uma história sobre perseguição e adrenalina, transforma sua estrutura, montagem e trilha sonora seguindo esse raciocínio. Como mencionei na crítica de "Fury Road", a estrada da fúria não está apenas na história, mas também na forma como é contada. "Challengers" compartilha dessa característica, construindo seu enredo como uma partida de tênis, com uma narrativa tão competitiva, vibrante e intensa quanto uma final de campeonato.


A montagem do filme é particularmente inventiva, misturando linhas do tempo e colocando acontecimentos fora de ordem, mas de maneira que tudo se encaixa perfeitamente. Isso cria uma sensação de fluxo constante, como em uma partida de tênis onde a vantagem pode mudar a cada momento até os últimos minutos. Como se víssemos o jogo da arquibancada, começamos o filme apenas como espectadores. Aos poucos, somos colocados cada vez mais no meio desse conflito. Em um momento somos a platéia, no outro estamos na pele dos jogadores, por fim somos a própria bola. A sequência final de Challengers é de arrancar os cabelos. 


É uma experiência tão eletrizante e sexual. Challengers tem causado um barulho nas redes sociais pela forma como explora sua sexualidade. Um filme sem uma cena de sexo sequer que consegue ser incrivelmente excitante e, sem esconder, filma seus personagens com tesão. A trilha sonora é igualmente vibrante! Sintetizadores e uma eletrônica alucinantes fazem a pele e a cabeça tremerem ecoando o som característico de uma bola de tênis quicando no chão. Não é difícil se entregar neste jogo.


Challengers se consolida como mais um dos vários filmes de Guadagnino que exploram a complexidade emocional e a sensualidade com visuais grandiosos. Com maturidade e domínio, aborda as complexidades de um triângulo amoroso e um modo de viver sufocante. Mais do que qualquer coisa, a verdadeira essência do filme é quando os personagens se permitem sentir. Quando há uma verdadeira conexão e tudo se resume aos 15 segundos fora desse mundo em um lugar único e muito bonito.




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