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CRÍTICA: DEADPOOL & WOLVERINE: Quando o saudosismo supera a criatividade.

  • Foto do escritor: João Paulo
    João Paulo
  • 25 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura


Sendo franco, posso dizer que fui assistir Deadpool & Wolverine com a expectativa de ser uma experiência muito ruim. No entanto, ao desligar minha mente por alguns minutos e abraçar o absurdo, até me diverti, o que não é o ideal. Não gostaria que isso fosse necessário. Por mais que adoremos assistir algo despretensioso de vez em quando, chega um ponto em que precisamos ser mais exigentes. É possível fazer algo simples e inteligente. Para muitos, será uma experiência bastante decepcionante.


Precisamos discutir algo que tem sido um tema recorrente nos últimos anos: a produção cinematográfica atual reflete um período em que não há mais espaço para novas histórias. Observa-se uma preocupante escassez de criatividade, somada ao desejo imaturo por narrativas familiares que pouco se arriscam.


Isso ocorre por diversos motivos. Hoje, as histórias são vistas apenas como produtos e, como tal, não há margem para erros. O fracasso não é uma opção, e há muito em jogo. Logo, os estúdios tomam decisões que visam, prioritariamente, o retorno financeiro. Esse comportamento está sendo cultivado e alimentado em nós. Claro que temos nossa parcela de culpa; o ser humano sempre temeu o desconhecido. Vivemos em um tempo onde o saudosismo e a nostalgia crescem cada vez mais na nossa sociedade, mas até onde não estamos sendo condicionados a aceitar isso como o novo normal?



Voltando aos grandes estúdios, Inside Out 2, lançado recentemente, é outro exemplo de filme que evidencia este momento no cinema, onde aqueles que tornam esses projetos possíveis optam ativamente por apostar em histórias mais "abrangentes" e seguras. Filmes que não saem de suas zonas de conforto não apenas subestimam as audiências, mas também partem do princípio de que se deve sempre dar aos fãs o que eles querem, independentemente da qualidade. Cada vez mais, a mediocridade tem sido a régua, e algumas pessoas estão dispostas a defendê-la com unhas e dentes.


Nesse cenário, qual é o papel da crítica? Ser antítese, provocar desconforto, questionamento e servir como catalisadora de mudanças. Diante disso, é natural que haja estranhamento e distanciamento do público geral quando confrontado com ideias e pontos de vista que desafiam sua compreensão sobre algo. Quando questionados, muitos reagem com medo, raiva e ignorância. Filmes tão populares como este carregam legiões de fãs que possuem uma verdadeira aversão a tudo que vai contra o que eles consideram certo. Esse consumismo desenfreado e cego cria uma plateia que espera pouco do que recebe e ainda fica satisfeita com isso.


Deadpool & Wolverine é um filme que diverte e vai agradar as massas, mas não entrega algo que vai resistir ao tempo. Não há nada concreto. Sua forma é vendida como algo diferente, mas é tão superficial, artificial e forçada como qualquer outro filme de super-herói comum. No entanto, apesar de todo esse contexto e todas as suas problemáticas, Deadpool & Wolverine entretém em vários momentos.


Desde o primeiro filme da franquia, Deadpool proporciona novas oportunidades de alcançar públicos mais adultos com piadas e cenas mais ousadas, mais palavrões e mais sangue. Isso inclui brincadeiras que quebram a quarta parede, metalinguagem, referências, etc. Algumas sequências são muito engraçadas e Ryan Reynolds se encaixa muito bem no personagem. Há uma cena no fim do filme que é belíssima. Em contrapartida, outras cenas parecem inacabadas e a imagem como um todo é frequentemente feia. Não há um profundo desenvolvimento de personagens, não há sentido em situações e universos criados e assim continua.



Para todas as coisas boas, existem outras ruins e vice-versa. Essa é a experiência que Deadpool & Wolverine proporciona. Suas qualidades brilham, mas são ofuscadas por seus defeitos. A situação se inverte e o ciclo começa de novo. Chega um ponto em que tudo parece artificial demais. Palavrões perdem a graça, piadas de sexo te lembram a época em que você era um adolescente imaturo do ensino médio, e tudo fica demais.


O filme funciona como uma homenagem aos X-Men e resgata antigos personagens da Marvel, mas não vai além do que já conhecemos e entendemos de um filme de herói comum. Pessoalmente, gosto do personagem. Ele me entretém e proporciona momentos de diversão, mas ainda poderia ser mais ousado. Adoro humor ácido, mas o Deadpool da Marvel, ainda que para maiores de dezoito anos, não é corajoso o suficiente para um protagonista como esse.


Além do entretenimento, Deadpool & Wolverine nos lembra do desafio que é resistir e persistir por uma indústria cinematográfica mais criativa e ousada. É um filme que agradará as massas, não é um exemplo ruim, mas não contribui significativamente para a evolução e o amadurecimento do cinema. Acredito que a crítica deve continuar desempenhando seu papel provocador, instigando reflexões e questionamentos que incentivem a busca por narrativas mais inovadoras e desafiadoras. Podemos aprender de todos os lugares.


-That's Wolverine!

-You damn straight it is. Disney brought him back. They're gonna make him do this till he's 90.



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