CRÍTICA: FURIOSA: A MAD MAX SAGA - Vingança e sobrevivência!
- João Paulo
- 27 de mai. de 2024
- 4 min de leitura

Furiosa: A Mad Max Saga é um filme da franquia Mad Max que antecede os acontecimentos de Fury Road, amplia o universo já apresentado, introduz novas histórias e tem um estilo próprio tanto estética como narrativamente. Ao contrário da ação desenfreada e descomunal de Fury Road, o novo filme desenvolve profundamente o tema da vingança, através da personagem Furiosa, interpretada por Anya Taylor-Joy e traz reflexões sobre guerra e superação. É um filme consistente onde a ambição e a paixão de George Miller são palpáveis. É injusto comparar Furiosa e Fury Road já que ambos têm propostas muito diferentes, mas também é importante ressaltar suas diferenças e como elas se particularizam em cada caso. O novo filme pode não trazer uma experiência tão intensa, mas brilha com boas performances e uma bela história de amadurecimento.
A jornada de Furiosa é marcada por uma série de encontros brutais e intensos, conduzindo sua transformação de prisioneira para guerreira feroz. Sua busca incansável por Dementus, interpretado por Chris Hemsworth, é alimentada por seu desejo de vingança e recuperar sua infância roubada. Esse tema é central para o desenvolvimento de sua personagem e a progressão da narrativa. O filme também destaca a complexa relação dos dois personagens. Apesar de sua natureza sádica, Dementus mostra uma afeição desvirtuada por Furiosa, o que acrescenta profundidade ao conflito e desafia a protagonista. Além disso, a história destaca o vazio da vingança e apresenta uma abordagem reflexiva sobre dor e perda.
Com foco em sua evolução e amadurecimento, Furiosa pode, de fato, ser considerado um filme do gênero coming-of-age. Ele traça a jornada da personagem desde sua juventude até eventos cruciais que a transformaram na guerreira vista em Fury Road. A narrativa explora seu desenvolvimento, desafios e crescimento pessoal, que são elementos marcantes do gênero. Logo no começo, após passar por uma situação traumatizante, entendemos o objetivo da protagonista. Ela é uma personagem que se esconde constantemente para sobreviver e conversa mais com o olhar do que com a fala. Acompanhamos seu fortalecimento através do tempo até se tornar uma verdadeira mulher. Apenas nos minutos finais a reconhecemos.

Furiosa e Fury Road exibem diferenças notáveis no uso das cores. Furiosa utiliza uma gama mais ampla de cores, especialmente na representação de ambientes como florestas exuberantes e áreas ricas em recursos. Isso contrasta fortemente com os tons predominantemente desolados e ásperos do deserto de Fury Road. A mudança no uso das cores também reflete os diferentes estágios e cenários da vida de Furiosa, oferecendo uma experiência variada e visualmente dinâmica. Em Furiosa, as cores exalam um tom cartunesco e pitoresco, adicionando intensidade e imersão à narrativa, enquanto se harmonizam com a história e entregam o que ela pede.
O filme é dividido em capítulos o que funciona muito bem. É uma narrativa dinâmica que equilibra bem as cenas de ação com o desenvolvimento da história. O filme se desenrola ao longo de mais de 15 anos, proporcionando uma visão completa da personagem, diferentemente de Fury Road, que ocorre em apenas alguns dias. Isso permite uma exploração mais profunda das origens de Furiosa e sua evolução. A história é coesa e mostra a protagonista construindo gradativamente suas habilidades e resiliência, o que é crucial para ilustrar sua desenvoltura e coragem. O uso de motivos visuais e temáticos, como as paisagens desoladas e a luta recorrente pela sobrevivência, também ajuda a unir diferentes partes do filme, mantendo uma atmosfera e um tom consistentes. Esses princípios garantem que cada cena não apenas seja independente, mas também contribua para a narrativa geral.
O filme combina efeitos práticos e CGI, embora se apoie mais em efeitos visuais em comparação com seu antecessor que dependia fortemente de efeitos práticos. Essa abordagem permite representações mais dinâmicas e visualmente deslumbrantes dos personagens e do mundo apocalíptico que habitam. Além disso, a narrativa em Furiosa é menos focada na perseguição contínua, optando por uma abordagem narrativa mais ampla que abrange diferentes fases e ambientes da vida de Furiosa. Uma mudança de estilo que fornece uma história de fundo mais rica e detalhada.
O universo da franquia é fortemente influenciado pelo conceito de guerra retratando um mundo pós-apocalíptico devastado por conflitos e recursos naturais escassos, como petróleo e água. Retratadas como fatores inevitáveis e destrutivos, a guerra e a violência moldam uma sociedade colapsada e o comportamento dos personagens. O cenário é um deserto devastado por um conflito nuclear, revelando as consequências extremas das disputas por poder e recursos. No filme, há um monólogo notável do narrador que faz comentários sobre a natureza destrutiva e cíclica da guerra. Uma narração que ajuda a definir o tom do filme, ressaltando o constante estado de conflito e a futilidade da guerra.

Furiosa: A Mad Max Saga carrega vários significados e temas que acrescentam profundidade à sua narrativa como: a luta pela sobrevivência num mundo hostil; a rebelião contra regimes opressores; a luta pela liberdade e justiça; o feminismo e o empoderamento feminino; a degradação ambiental e a escassez de recursos; a resiliência do ser humano e a natureza duradoura da humanidade. Esses elementos temáticos trabalham juntos para criar uma narrativa rica e multifacetada que não apenas expande a personagem Furiosa, mas também aprofunda o universo Mad Max.
Este novo filme me deu tempo para realmente me conectar com a jornada de Furiosa e sentir que eu estava crescendo junto com ela vendo suas lutas e triunfos ao longo do tempo. Uma experiência que me fez refletir sobre as minhas próprias mudanças e crescimento na minha vida. Em um dos melhores momentos do filme, Dementus diz: "Sua coisa fabulosa. Você rastejou para fora de uma sepultura impiedosa, mais profunda que o inferno. Só uma coisa vai fazer isso por você. Não esperança. Ódio. Não há vergonha no ódio. É uma das grandes forças da natureza." Um diálogo que reflete a natureza intensa e sombria das motivações da Furiosa como expõe essa dualidade complexa e verdadeira que existe em todos nós. George Miller consolida sua posição como um diretor inventivo e apaixonado que realmente acredita no que faz proporcionando experiências enriquecedoras e marcantes.

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