CRÍTICA: INSIDE OUT 2: Uma fórmula para a mediocridade.
- João Paulo
- 24 de jun. de 2024
- 4 min de leitura

Quando penso em Inside Out, vejo ali uma forma simples e acessível de explorar emoções humanas e como cada uma tem sua importância para o todo. Vejo uma abordagem inteligente, sensível e universal: facilmente compreendida em todos os cantos do mundo por todas as idades. Ainda que seja uma das franquias mais infantis da Pixar, o primeiro filme, em especial, carrega uma maturidade e complexidade que brilham aos olhos de jovens e adultos. Contudo, Inside Out 2 falha ao tentar reproduzir a mesma fórmula de seu antecessor de maneira ainda mais simplificada e infantilizada. Um filme sobre a transição da infância para a puberdade que talvez seja bobo e ingênuo demais até para os adolescentes.
Inside Out 2 reflete, evidentemente, a nova fase da Pixar, influenciada pela Disney, de apostar em histórias mais “abrangentes” e seguras. É um filme que não sai da sua zona de conforto. Apresenta toda a estrutura já usada no primeiro filme e escolhe uma abordagem menos complexa e ainda mais rasa. Mesmo que o objetivo final seja, principalmente, as crianças, é uma sequência que subestima sua audiência. Um filme para crianças não é sinônimo de infantilidade ou ingenuidade. Não faltam exemplos, vários da Pixar inclusive, de histórias para toda a família que ainda trazem uma profundidade e autenticidade maiores.

Não há como evitar a comparação com o primeiro filme Inside Out de 2015. Apesar de também ser infantil comparado com outros filmes do estúdio, ele traz uma dinâmica que funciona e uma mensagem duradoura. Aprendemos que nenhuma emoção é maior do que a outra. Todas são igualmente importantes e precisam coexistir para sermos nossa melhor versão. Inside Out nos ensina como devemos nos permitir sentir coisas tristes e encontrar beleza na tristeza. Não é possível reconhecer e valorizar a felicidade sem a tristeza. Ela precisa ser sentida. Reconhecer que a vida pode ser ruim e difícil nos ajuda a viver mais livres e conscientes.
Crescemos com o pensamento de que a felicidade é o principal objetivo. Pensamos que devemos ser felizes o tempo todo. Apesar de tudo, é poderoso quando percebemos que a felicidade não é a chave para todas as coisas. Precisamos estar em paz com todas as outras emoções e evitar uma positividade tóxica. Viver é reconhecer que parte da infância e da vida adulta é lidar com mágoa e decepção. Faz parte de como nos tornamos adultos. Se é tudo alegria, não há amadurecimento. A tristeza é o preço que pagamos pelo amor. A dor é o preço que pagamos pelo amor. A única maneira de não sentir dor é nunca sentir amor, e essa não é uma vida que valha a pena ser vivida. Inside Out oferece tudo isso.
No entanto, em Inside Out 2, a ansiedade e todas as outras novas emoções são vistas como inimigas durante todo o filme e colocadas como verdadeiros obstáculos. Da mesma forma como no primeiro filme onde a Alegria precisa reconhecer o papel da Tristeza, isso se repete na sequência com as novas emoções de forma ainda mais desenhada e explícita. Com soluções ainda mais simplórias, um desenvolvimento arrastado e uma conclusão que me faz questionar o papel do próprio filme. A conclusão é onde encontrei mais ruído na mensagem e na forma como ela está sendo transmitida.
Reconhecer que precisamos mudar para crescer é um presente. Existem coisas que precisamos deixar para trás para crescermos. Se nos segurarmos nelas para sempre, ficaremos estagnados. Ainda que seja difícil, é necessário. Como também é importante respeitar nosso próprio tempo, nosso processo, e não pular etapas. Essas são lições que vão além dos filmes. Estamos sempre voltando para o que já foi, apelando para a nostalgia, para o que já conhecemos e para o que é confortável. Assistir esses personagens, que já passaram e superaram esse mesmo processo, repetirem tudo de novo apenas com mudanças suficientes para justificar uma sequência é, no mínimo, frustrante.

Frozen 2 é um exemplo de uma ótima sequência da Disney onde, além de reaproveitar tudo que deu certo no primeiro filme, amplia a dramaticidade e as consequências. É um filme que apresenta novas características de personagens que já conhecíamos e os leva cada vez mais ao limite. Sem mencionar suas tantas outras qualidades. Inside Out 2 é puro conforto.
Em síntese, Inside Out 2 apela para aquilo que já é facilmente reconhecível, não deixa sua zona de conforto e sustenta sua própria mediocridade. Contudo, tem diversos momentos engraçados, interações divertidas entre os personagens e vale a pena como um bom entretenimento em família. É uma franquia que nos ensina a abraçar a tristeza, a ansiedade e todas as outras emoções como uma forma de estarmos próximos uns dos outros. Nos convida a desenvolver compaixão, empatia e mostra como tudo isso constrói relacionamentos de uma forma que nada mais consegue construir.
"Os filmes ficaram caros demais para serem criativos. Quando você gasta esse tipo de dinheiro, precisa fazer certo, e em Hollywood, fazer certo significa garantir que seja parecido com algo que já foi bem-sucedido. E essa é uma fórmula certeira para a mediocridade." — Paul Schrader
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