CRÍTICA: MAD MAX: FURY ROAD - A própria estrada da fúria!
- João Paulo
- 22 de mai. de 2024
- 3 min de leitura

É difícil encontrar palavras que já não tenham sido ditas para descrever Mad Max: Fury Road. Não é fácil expressar, de forma verdadeiramente justa, como essa experiência tão intensa e catártica colocou um novo patamar no cinema. Dirigido por George Miller, o filme recebeu 10 indicações ao Oscar e venceu em 6 categorias. Com uma aclamação universal por parte da crítica, descrito por muitos como “uma obra prima do cinema de ação”, Fury Road é um filme único no seu gênero.
Em um cenário pós-apocalíptico assombroso, este universo é um caos admiravelmente destrutivo. Nele, a gasolina e a água são as mercadorias mais preciosas, em meio a um deserto escaldante e impiedoso. O filme retrata uma clara distopia, onde os personagens enfrentam uma opressão extrema, vivendo no desespero e na carência das necessidades mais básicas. Um reflexo não apenas de um futuro possível, mas também de uma realidade muito atual, onde pessoas sucumbem diariamente à fome e à sede, enquanto a busca implacável por poder e riqueza permeia a sociedade. O caos e a imprevisibilidade reinam.
Max é um indivíduo solitário, assombrado por fantasmas do passado, traumas e arrependimentos. Busca incessantemente por redenção, o que reflete em sua constante mudança de lugares, encontrando morada apenas nas estradas. Apesar de sua solidão, revela-se um personagem com humanidade quando trabalha em equipe, exibindo sentimentos genuínos e demonstrando cuidado pelas outras pessoas além de si mesmo. Furiosa é o oposto complementar de Max. Ela é uma personagem destemida e irreverente que luta pelo o que acredita custe o que custar. Muito já foi tirado dela durante sua vida e essa é a última oportunidade de buscar liberdade para si e para outras mulheres como ela. Com performances brilhantes, Tom Hardy e Charlize Theron expressam mais com o olhar do que com palavras e apresentam uma química visceral.

A história segue um grupo de personagens que precisam ir de um ponto para outro. Fury Road leva essa premissa a sério e todo o filme é construído dessa forma o que torna a experiência intensa, difícil e de tirar o fôlego. A estrada não está apenas na história, mas também na forma como ela é contada. O filme é direto ao ponto. Logo no começo entendemos os objetivos dos personagens e isso é desenvolvido gradualmente conforme a ação se desenrola. Em vários momentos os personagens precisam mudar seus planos, se adaptar e entenderem como sobreviver nesse pandemônio.
Fury Road vai além das fórmulas e convenções prontas do gênero como um blockbuster que realmente ousou inovar e desafiar a norma. É uma sequência da franquia Mad Max, mas traz um brilho próprio e se destaca por sua ambição e excelência. É um filme fora da curva que explora ao máximo e da melhor forma suas qualidades. A montagem é frenética e alucinante. Fury Road não existiria, não teria a tensão que tem, a construção da ação, se não fosse a brilhante montagem. Algo que, a partir dos storyboards do filme, constrói uma perseguição contínua, com relativamente poucos diálogos e colocando o visual em primeiro lugar. A habilidade de construir a progressão de ações e reações é evidente, mantendo o espectador engajado sem sobrecarregá-lo. Há momentos de respiro, sim, mas grande parte do filme é na estrada da fúria no meio do combate.
O uso das cores é estonteante. A saturação do filme potencializa esse universo e tudo fica mais palpável. Há sequências como a tempestade de areia e a travessia pelo pântano à noite que se destacam. É uma experiência absurdamente provocante e sensorial. As cenas de ação são muito bem executadas e passam verdade no perigo que os personagens estão enfrentando, o que potencializa a adrenalina. A combinação de efeitos práticos e computação gráfica rende sequências perigosas e ambiciosas. A trilha sonora se destaca com sua força e presença, enquanto os personagens são excêntricos e memoráveis, como Immortan Joe, um vilão arrebatador.
Impossível concluir este texto sem falar sobre a presença feminina no filme. A Furiosa tem o maior destaque, mas todas as personagens são fortes, resistentes e marcadas pela ideia de apoio e suporte entre as mulheres. Não só coloca personagens femininas em evidência, algo incomum em filmes de ação, como também carrega um contexto político de luta contra a exploração sexual e pelos direitos das mulheres.
Eu acredito que Mad Max: Fury Road é um filme de ação que mudou o cinema. Existe um cuidado artístico, estético e político. Existe a preocupação de transmitir verdadeiras emoções e sensações. Depois de quase dez anos, ainda é um filme fresco e será por muito tempo. É uma experiência que acende em muitas pessoas o interesse por cinema, que prova que há beleza até nos lugares mais improváveis. É genuinamente belo em todos os aspectos. Se eu vou morrer, eu quero morrer na estrada da fúria!

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