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CRÍTICA: O VEREDITO - Resiliência e redenção

  • Foto do escritor: João Paulo
    João Paulo
  • 20 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura



“Vocês são todos os mesmos. Não ligam a quem prejudicam. Só ligam pra dinheiro. São um bando de prostitutas! Não têm lealdade, nada!”. Esse é um dos diálogos de O Veredito que mais evidenciam a complexidade e incoerência que cercam os advogados e todos que trabalham no campo do direito e da justiça. É dito também em outro momento como não existe justiça, apenas a tentativa. Dirigido por Sidney Lumet, esse é mais um filme de sua brilhante filmografia que explora as incongruências do ser humano e discute a ética no meio jurídico.


Frank Galvin, muito bem interpretado por Paul Newman, é um advogado fracassado, alcoólatra e menosprezado pelo sistema. Há um ano e meio, Mickey Morrissey, amigo e parceiro de Frank, tem investigado o caso de uma mulher chamada Sally Doneghy sobre sua irmã em coma. Sally acredita que sua irmã está em coma por negligência dos médicos. Faltam dez dias para o julgamento e Frank está tão mergulhado nos seus próprios problemas que sequer conheceu Sally ou fez qualquer movimento para o caso. Após receber um ultimato de Mickey, Frank finalmente começa sua própria investigação e está disposto a enfrentar os médicos, a igreja, os advogados e até os seus próprios clientes para resolver o caso. 


Sempre achei muito dúbia a ideia de advogados, exercendo sua profissão, defenderem pessoas indefensáveis. Assim como os sofistas, que aprendemos na filosofia, desenvolvem a argumentação retórica. Não acreditam numa verdade absoluta, não estão interessados pela busca da verdade e sim pela arte de vencer debates. É a chamada argumentação de convencimento. Procuram persuadir o interlocutor, alcançar uma conclusão válida, mas não necessariamente verdadeira. É um jogo de poder e influência. 


Nesse contexto todo está Frank. Alguém que vivenciou de perto o pior da justiça e da corrupção. Seu desespero e desamparo são palpáveis. Está nos seus olhos. Sidney Lumet demonstra inúmeras vezes ter domínio sobre a técnica e, através da câmera, torna ainda mais evidente o deslocamento e a impotência do personagem. Em diversos momentos, a câmera está num canto inferior da cena. Filmando de baixo para cima, de uma certa distância, tornando os personagens pequenos em relação ao ambiente. Não necessariamente pequenos, mas sufocados pelo entorno, menosprezados.



É uma história de resiliência e redenção que espera o melhor de nós. A vida me tornou mais pessimista do que otimista. Assistir O Veredito é também olhar para nós mesmos e como lidamos com essas adversidades. Conforme o filme se desenrolava, a sensação que eu tinha era de uma batalha perdida, de completo abandono e insignificância. De onde tiramos força para continuar quando tudo parece se movimentar contra nós? 


Diante de todos os obstáculos, todas as estratégias adversárias possíveis para atrapalhar o julgamento e favorecer os acusados, O Veredito termina com aqueles que têm a maior responsabilidade: o júri. A última chance de Frank é contar com a humanidade e o compromisso com a verdade. Em seu último monólogo, com reflexões de uma vida inteira, está o cerne do filme. Mais uma vez, Lumet demonstra sensibilidade e responsabilidade ética ao escolher contar histórias maduras e verdadeiramente humanas. 


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