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CRÍTICA: VERTIGO - O quanto podemos nos entregar à outra pessoa?

  • Foto do escritor: João Paulo
    João Paulo
  • 19 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura


Quando penso em Vertigo, lembro da sensação incessante e cada vez mais intensa de desconforto. Um incômodo físico quando o corpo tenta fazer o possível para sair de uma situação e não consegue. Me vi em vários momentos virando o rosto, me mexendo na poltrona do cinema e com um desgosto de tirar qualquer apetite. Um dissabor forte o suficiente para sentir enjoo. Sensações que dizem tanto sobre o filme e do que ele se trata como também sobre mim, espectador. 


John é um detetive aposentado até que um antigo amigo, Gavin, pede para que ele investigue sua esposa, Madeleine. Segundo ele, ela tem andado estranha, tem apresentado sinais que possa estar possuída por algum espírito do passado. John é cético, mas, com relutância, aceita o caso. Logo ele descobre que não é uma investigação qualquer e terá que enfrentar seus maiores medos. É um caso que o mudará para sempre.


Vertigo facilmente causa reações nas pessoas por ser um filme que testa seus personagens ao extremo. Hitchcock, que dirige o filme, traduz para as telas, com verdade, uma loucura e dependência fatais. Não é condescendente e expõe um lado cruel comum a todos nós, principalmente homens, quando nos relacionamos com outras pessoas. O quanto podemos nos entregar à outra pessoa? O quanto devemos? Vertigo mostra, de maneira violenta, como uma pessoa pode se anular completamente e como outra tem o poder e a liberdade de mudar alguém até não sobrar mais nada. Um ciclo vicioso e doentio de dependência.


É importante ressaltar a forma como Hitchcock, através das cores, luzes e sombras, cria cenas e atmosferas que enriquecem a história e ampliam o suspense. Seja o presságio de algo, os sentimentos dos personagens, suas influências sobre os outros e incoerências. A trilha sonora também é imponente desde os créditos iniciais trazendo tensão e desconforto. Juntos esses elementos proporcionam uma experiência imersiva que vai além do diálogo. 



O impacto de Vertigo na história do cinema é inestimável. Existe o cinema antes e depois de Vertigo. O filme introduz técnicas inventivas de distorção de imagem para retratar a sensação de vertigem e coloca o espectador em uma posição desconfortável, mas impiedosamente prazerosa, de testemunha assumidamente voyeurista. Assumimos a posição do protagonista, o que revela mais de nós mesmos do que gostaríamos. Hitchcock sabe desenrolar uma história de mistério e suspense mas também, como um verdadeiro artista, se expõe e coloca muito de si em seus filmes.


Muitos filmes como Instinto Selvagem de 1992 e Trama Fantasma de 2017 parecem se inspirar em Vertigo e, cada um com o olhar do seu tempo, conta uma história atemporal que está sempre sendo contada e vivida. É um abuso que muitos de nós nos submetemos para suprir uma necessidade que nunca vai ser atendida, não dessa forma. O vazio dentro do ser humano é tão grande que ele está disposto a se apagar, perder sua própria identidade, por um falso amor, pela falsa sensação de pertencer. 


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